Sebastião Nery (Observatório da Imprensa)
Dinheiro da CIA para FHC
"Numa noite de inverno do ano de 1969, nos escritórios da Fundação Ford, no Rio, Fernando Henrique teve uma conversa com Peter Bell, o representante da Fundação Ford no Brasil. Peter Bell se entusiasma e lhe oferece uma ajuda financeira de 145 mil dólares. Nasce o Cebrap".
Esta história, assim aparentemente inocente, era a ponta de um iceberg. Está contada na página 154 do livro "Fernando Henrique Cardoso, o Brasil do possível", da jornalista francesa Brigitte Hersant Leoni (Editora Nova Fronteira, Rio, 1997, tradução de Dora Rocha). O "inverno do ano de 1969" era fevereiro de 69.
Fundação Ford
Há menos de 60 dias, em 13 de dezembro, a ditadura havia lançado o AI-5 e jogado o País no máximo do terror do golpe de 64, desde o início financiado, comandado e sustentado pelos Estados Unidos. Centenas de novas cassações e suspensões de direitos políticos estavam sendo assinadas. As prisões, lotadas. Até Juscelino e Lacerda tinham sido presos.
E Fernando Henrique recebia da poderosa e notória Fundação Ford uma primeira parcela de 145 mil dólares para fundar o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento). O total do financiamento nunca foi revelado. Na Universidade de São Paulo, sabia-se e se dizia que o compromisso final dos americanos era de 800 mil a um milhão de dólares.
Agente da CIA
Os americanos não estavam jogando dinheiro pela janela. Fernando Henrique já tinha serviços prestados. Eles sabiam em quem estavam aplicando sua grana. Com o economista chileno Faletto, Fernando Henrique havia acabado de lançar o livro "Dependência e desenvolvimento na América Latina", em que os dois defendiam a tese de que países em desenvolvimento ou mais atrasados poderiam desenvolver-se mantendo-se dependentes de outros países mais ricos. Como os Estados Unidos.
Montado na cobertura e no dinheiro dos gringos, Fernando Henrique logo se tornou uma "personalidade internacional" e passou a dar "aulas" e fazer "conferências" em universidades norte-americanas e européias.
Era "um homem da Fundação Ford". E o que era a Fundação Ford? Uma agente da CIA, um dos braços da CIA, o serviço secreto dos EUA.
Quem pagou
Acaba de chegar às livrarias brasileiras um livro interessantíssimo, indispensável, que tira a máscara da Fundação Ford e, com ela, a de Fernando Henrique e muita gente mais: "Quem pagou a conta? A CIA na guerra fria da cultura", da pesquisadora inglesa Frances Stonor Saunders (editado no Brasil pela Record, tradução de Vera Ribeiro).
Quem "pagava a conta" era a CIA, quem pagou os 145 mil dólares (e os outros) entregues pela Fundação Ford a Fernando Henrique foi a CIA. Não dá para resumir em uma coluna de jornal um livro que é um terremoto. São 550 páginas documentadas, minuciosa e magistralmente escritas:
"Consistente e fascinante" ("The Washington Post"). "Um livro que é uma martelada, e que estabelece em definitivo a verdade sobre as atividades da CIA" ("Spectator"). "Uma história crucial sobre as energias comprometedoras e sobre a manipulação de toda uma era muito recente" ("The Times").
Milhões de dólares
1 - "A Fundação Farfield era uma fundação da CIA... As fundações autênticas, como a Ford, a Rockfeller, a Carnegie, eram consideradas o tipo melhor e mais plausível de disfarce para os financiamentos... permitiu que a CIA financiasse um leque aparentemente ilimitado de programas secretos de ação que afetavam grupos de jovens, sindicatos de trabalhadores, universidades, editoras e outras instituições privadas" (pág. 153).
2 - "O uso de fundações filantrópicas era a maneira mais conveniente de transferir grandes somas para projetos da CIA, sem alertar para sua origem. Em meados da década de 50, a intromissão no campo das fundações foi maciça..." (pág. 152). "A CIA e a Fundação Ford, entre outras agências, haviam montado e financiado um aparelho de intelectuais escolhidos por sua postura correta na guerra fria" (pág. 443).
3 - "A liberdade cultural não foi barata. A CIA bombeou dezenas de milhões de dólares... Ela funcionava, na verdade, como o ministério da Cultura dos Estados Unidos... com a organização sistemática de uma rede de grupos ou amigos, que trabalhavam de mãos dadas com a CIA, para proporcionar o financiamento de seus programas secretos" (pág. 147).
FHC facinho
4 - "Não conseguíamos gastar tudo. Lembro-me de ter encontrado o tesoureiro. Santo Deus, disse eu, como podemos gastar isso? Não havia limites, ninguém tinha que prestar contas. Era impressionante" (pág. 123).
5 - "Surgiu uma profusão de sucursais, não apenas na Europa (havia escritorios na Alemanha Ocidental, na Grã-Bretanha, na Suécia, na Dinamarca e na Islândia), mas também noutras regiões: no Japão, na Índia, na Argentina, no Chile, na Austrália, no Líbano, no México, no Peru, no Uruguai, na Colômbia, no Paquistão e no Brasil" (pág. 119).
6 - "A ajuda financeira teria de ser complementada por um programa concentrado de guerra cultural, numa das mais ambiciosas operações secretas da guerra fria: conquistar a intelectualidade ocidental para a proposta norte-americana" (pág. 45). Fernando Henrique foi facinho
sábado, 15 de agosto de 2009
terça-feira, 11 de agosto de 2009
Na churrascaria...
O gaúcho chega em uma churrascaria em São Paulo, senta e, indignado, chama o garçom:
- Mas bah! Na minha terra não tem essa história de cardápio. A gente escolhe a carne cheirando a faca do assador!
O garçom deu um sorriso irônico, mas como não queria perder o cliente...
O atendeu a caráter. O garçom dirigiu-se ao assador da carne, pegou sua faca que tinha acabado de cortar um cupim e levo-a ao gaúcho. O gaúcho pegou a faca, colocou-a em frente de seu nariz e exclamou:
- Mas bah! Esse cupim está maravilhoso, me traz um pedaço!
O garçom, assustado, serviu o gaúcho e, logo após, buscou a faca utilizada para cortar a costela e deu para o gaúcho. O mesmo exclamou:
- Mas bah! Essa costela está no ponto, pode trazer! O garçom, louco da vida com o gaúcho, buscou uma faca e pediu pra o assador:
- Tião (assador), passa a mão no pau e depois esfregue-a nessa faca! Dito e feito, o garçom pegou a faca e entregou para o gaúcho, ele colocou-a em frente de seu nariz, suspirou e disse:
- Mas bah! Como esse mundo é pequeno! O Tião trabalha aqui!!!!!!!
- Mas bah! Na minha terra não tem essa história de cardápio. A gente escolhe a carne cheirando a faca do assador!
O garçom deu um sorriso irônico, mas como não queria perder o cliente...
O atendeu a caráter. O garçom dirigiu-se ao assador da carne, pegou sua faca que tinha acabado de cortar um cupim e levo-a ao gaúcho. O gaúcho pegou a faca, colocou-a em frente de seu nariz e exclamou:
- Mas bah! Esse cupim está maravilhoso, me traz um pedaço!
O garçom, assustado, serviu o gaúcho e, logo após, buscou a faca utilizada para cortar a costela e deu para o gaúcho. O mesmo exclamou:
- Mas bah! Essa costela está no ponto, pode trazer! O garçom, louco da vida com o gaúcho, buscou uma faca e pediu pra o assador:
- Tião (assador), passa a mão no pau e depois esfregue-a nessa faca! Dito e feito, o garçom pegou a faca e entregou para o gaúcho, ele colocou-a em frente de seu nariz, suspirou e disse:
- Mas bah! Como esse mundo é pequeno! O Tião trabalha aqui!!!!!!!
O Barão de Itararé explica...
Na Roma dos césares havia um cônsul da Cirenaica de nome Lucius Amarus Rufus Apius, que gozava de grande popularidade pelas suas preclaras virtudes cívicas e morais. Mas, como neste mundo não há nada perfeito, também Lucius Amarus Rufus Apius tinha um pequeno defeito, aliás bastante comum nos homens públicos dos nossos dias atômicos e que consistia em confundir muito o patrimônio alheio com o próprio. Por isso, quando alguém era apanhado em flagrante delito de apropriação indébita, o criminoso era comparado a Lucius Amarus Rufus Apius. Como, porém, esse nome era muito comprido, o povo o abreviava, dizendo simplesmente "L. A. R. Apius". (1955)
domingo, 9 de agosto de 2009
Rapidinhas...
Firme
O caipira estava tranquilo, deitado na sala assistindo televisão, quando o seu compadre passou e acenou pela janela:
-Bom dia, compadre... firme?
-Não. Por enquanto ta passando futebor...
So pra complicar!!!
A professora entra na sala e logo pergunta:
- Pedrinho, o que é que tem quatro pés, faz miau, sobe no telhado e tem uma azeitona no nariz?
- Azeitona fessora, sei não.
- É o gato Pedrinho, a azeitona foi só pra complicar.
Novamente a professora pergunta:
- Luizinho, o que é que tem asa mas não voa, tem bico mas não bica, se coloca leite e café dentro e tem uma goiaba na boca?
- Goiaba fessora, sei não.
- É bule Luizinho, a goiaba foi só pra complicar. Agora faz comigo Joãozinho - diz a professora.
Joãozinho era o capetinha da turma, e pergunta à professora:
- Fessora, o que é que é comprido, roliço, tem a ponta vermelha, as mulheres gostam de pôr na boca e tem duas bolas?
A professora furiosa, diz:
- Joãozinho, você está expulso da aula!
- Calma fessora, é batom. As duas bolas foi só pra complicar!
Cliente feliz
O sujeito chega no escritório de seu advogado:
- Quero falar com meu advogado!
A secretária responde:
- Seu advogado morreu!
No dia seguinte o sujeito volta e diz novamente:
- Quero falar com meu advogado!
- Já falei que seu advogado morreu!
- responde a secretária.
No dia seguinte, a cena se repete e a secretária perde a paciência:
- Quantas vezes vou ter que dizer ao senhor que seu advogado morreu?
- Desculpe o transtorno, mas não imagina o prazer que tenho em ouvir isso...
O caipira estava tranquilo, deitado na sala assistindo televisão, quando o seu compadre passou e acenou pela janela:
-Bom dia, compadre... firme?
-Não. Por enquanto ta passando futebor...
So pra complicar!!!
A professora entra na sala e logo pergunta:
- Pedrinho, o que é que tem quatro pés, faz miau, sobe no telhado e tem uma azeitona no nariz?
- Azeitona fessora, sei não.
- É o gato Pedrinho, a azeitona foi só pra complicar.
Novamente a professora pergunta:
- Luizinho, o que é que tem asa mas não voa, tem bico mas não bica, se coloca leite e café dentro e tem uma goiaba na boca?
- Goiaba fessora, sei não.
- É bule Luizinho, a goiaba foi só pra complicar. Agora faz comigo Joãozinho - diz a professora.
Joãozinho era o capetinha da turma, e pergunta à professora:
- Fessora, o que é que é comprido, roliço, tem a ponta vermelha, as mulheres gostam de pôr na boca e tem duas bolas?
A professora furiosa, diz:
- Joãozinho, você está expulso da aula!
- Calma fessora, é batom. As duas bolas foi só pra complicar!
Cliente feliz
O sujeito chega no escritório de seu advogado:
- Quero falar com meu advogado!
A secretária responde:
- Seu advogado morreu!
No dia seguinte o sujeito volta e diz novamente:
- Quero falar com meu advogado!
- Já falei que seu advogado morreu!
- responde a secretária.
No dia seguinte, a cena se repete e a secretária perde a paciência:
- Quantas vezes vou ter que dizer ao senhor que seu advogado morreu?
- Desculpe o transtorno, mas não imagina o prazer que tenho em ouvir isso...
Os amigos do Zé Pedágio
Em curta passagem pela cidadezinha do Exu, no sertão mais longinquo do Pernambuco, o governador de São Paulo Sr. Zé Pedágio nos brindou com a seguinte pérola: "O Luiz Gonzaga e eu éramos grandes amigos".
Um caso de oportunismo político. É assim que o escritor Assis Angelo, biógrafo de Luiz Gonzaga, define as declarações do governador José Serra, que visitou Exu, em Pernambuco, e garantiu que privou da amizade do rei do baião, de acordo com o site Conversa Afiada, do grande jornalista Paulo Henrique Amorim, “Certamente Luiz Gonzaga não conheceu e nem foi amigo de Serra”, disse Assis Angelo em entrevista por telefone a Paulo Henrique Amorim. Segundo ele – que é autor do “Dicionário Gonzagueano” e de “Eu vou contar pra vocês” - esse tipo de aproximação com a figura de Gonzaga é característico de períodos eleitorais. Angelo ressalta que Gonzagão teve a amizade e admiração de políticos que lhe foram contemporâneos, como Getúlio Vargas e Juan Domingo Péron. Baseado nesses fatos trazemos a público os demais amigos do Zé Pedágio:
Um caso de oportunismo político. É assim que o escritor Assis Angelo, biógrafo de Luiz Gonzaga, define as declarações do governador José Serra, que visitou Exu, em Pernambuco, e garantiu que privou da amizade do rei do baião, de acordo com o site Conversa Afiada, do grande jornalista Paulo Henrique Amorim, “Certamente Luiz Gonzaga não conheceu e nem foi amigo de Serra”, disse Assis Angelo em entrevista por telefone a Paulo Henrique Amorim. Segundo ele – que é autor do “Dicionário Gonzagueano” e de “Eu vou contar pra vocês” - esse tipo de aproximação com a figura de Gonzaga é característico de períodos eleitorais. Angelo ressalta que Gonzagão teve a amizade e admiração de políticos que lhe foram contemporâneos, como Getúlio Vargas e Juan Domingo Péron. Baseado nesses fatos trazemos a público os demais amigos do Zé Pedágio:
sexta-feira, 19 de junho de 2009
Cerco a Sarney: Repito: Coincidência ou Serra?
Quinta-feira, 18 de Junho de 2009
Extraído do Blog do Mello
Em 8 de fevereiro fiz esta postagem, que continua atual - ou está mais atual ainda. Por isso a repito, com acréscimos:
Não sei quanto a vocês, mas eu achei muito, mas muuuito estranho mesmo que tenham surgido denúncias contra os Sarney, na mesma semana em que o bigode acadêmico chegou à presidência do Senado.
Simples coincidência ou aí tem o dedo de... você sabe quem: aquele político que trabalha nos bastidores, usando de espionagem, demitindo jornalistas e maestros, apoiado pelos jornalões, especialmente os paulistas.
Pois ontem, o Estadão publicou matéria com o vazamento de um grampo da PF que teria flagrado uma possível ajuda da ABIN à família Sarney. Hoje foi o dia da Folha (aqui, para assinantes). Em novo vazamento de grampo da PF, Sarney é acusado de ter usado jornal e TV de sua propriedade para atacar seu adversário político no Maranhão, Jackson Lago. Repito: simples coincidência?
A vitória de Sarney representou uma dupla derrota para os opositores de Lula: primeiro, porque Garibaldi Aves se assanhou na presidência e vivia complicando votações de interesse do governo. Segundo, e mais importante, porque Sarney é adversário de José Serra, a quem considera como o principal responsável pelo escândalo que, em 2002, derrubou a candidatura de Roseana Sarney ao Palácio do Planalto.
Outro dia mesmo o Azenha publicou em seu blog o discurso de Sarney naquela época, de onde destaquei o trecho a seguir:
Há um fato cuja recorrência impressiona e intriga. É que toda referência a esse estilo característico de espionagem e dossiês nasce no Ministério da Saúde e envolve o ex-ministro José Serra. Não é afirmação minha, é dos jornais. Mais que uma estratégia de campanha parece uma concepção de governo.
A primeira matéria que surgiu foi na revista Carta Capital, há cerca de um ano. Aqui está o plano anunciado, que aconteceu exatamente como previsto. Leio a revista:
'...no Ministério da Saúde se teria produzido um conjunto de informações sobre atividades de Paulo Renato. Informações explosivas, pois indicariam uma das trilhas montadas pelo grupo em sua escalada rumo ao poder. Ainda segundo a história do dossiê, este teria sido montado no Ministério da Saúde, mais precisamente na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, onde funcionaria um sistema espionagem. ...Eram sete os agentes, incluídos um ex-SNI e SAE [hoje Abin] e um ex-chefe da Inteligência da Polícia Federal no governo Fernando Henrique.' E dá os detalhes.
A imprensa em quase sua totalidade publica que esse mesmo grupo está conectado para essas ações políticas na Polícia Federal e no Ministério Público citando o delegado Marcelo Itagiba, ex-chefe do Departamento de Inteligência da Polícia Federal, ex-chefe do grupo de inteligência que se formou no Ministério da Saúde e que é, atualmente, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, e o Procurador José Roberto Santoro. É o que diz a Folha de S.Paulo.
'Delegado e procurador ligados a Serra atuam em investigações: o presidenciável tucano, senador José Serra (SP), conseguiu reunir sob as asas de aliados as duas principais investigações em curso que podem implodir a campanha de seus adversários. São eles o subprocurador da República José Roberto Santoro e o delegado de Polícia Federal Marcelo Itagiba.'
Continuo lendo: 'Em viagem a Palmas (Tocantins), há duas semanas, o subprocurador Santoro coordenou informalmente o pedido de busca e apreensão de documentos no escritório da pré-candidata pefelista e governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Trocou idéias com o procurador Mário Lúcio Avelar, que foi o autor do pedido, e orientou a estratégia a ser adotada.'
'José Roberto Santoro e Marcelo Itagiba fazem parte da tropa de choque de Serra no aparato policial e de investigação. Os dois já estiveram juntos antes.'
'Ex-assessor especial de Serra no Ministério da Saúde, nos dois anos anteriores, o delegado Itagiba havia demonstrado grande desenvoltura no exercício de suas funções. No dia 9 de março de 1999, por exemplo, representou o então ministro numa reunião com a diretoria da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica).'
'Foi propor aos donos e dirigentes de laboratórios brasileiros que investissem dinheiro numa entidade não-governamental a ser criada para investigar e combater a falsificação de medicamentos. A proposta foi aprovada, segundo ata da reunião.'
Não estou inventando nada sobre ninguém. Estou lendo o que foi publicado. Não houve nenhum desmentido.
Naquele tempo do noticiário da revista Carta Capital, a governadora do Maranhão não era o alvo, eram os concorrentes internos, Pedro Malan, Tasso Jereissati, Paulo Renato. O primeiro explodiu pelo veto político, foi fácil. Dossiê foi feito contra Paulo Renato, diz a revista. Tasso Jereissati também foi objeto de outro dossiê, para ser usado caso insistisse em ser candidato. Disseminou-se o método e o medo.
A serem verdade as aparências, montou-se um grupo estatal para ações políticas. Na Folha de S. Paulo, a jornalista Mônica Bergamo publica:
"Uma das primeiras atitudes do Procurador Mário Lúcio Avelar, do Tocantins, ao colocar as mãos na documentação apreendida foi disparar telefonemas para o procurador Santoro, considerado o mais próximo do candidato Serra."
"Gente, querem dizer que isso é do Serra? Então escreve: sou o procurador do Serra."
Na Saúde, o ministro Serra multiplicou gastos com empresa de ex-chefe de Telecomunicações Eletrônicas do SNI e professor da Polícia Federal. A Fence tem contratos hoje de R$ 1,87 milhão, seis vezes mais do que no ano passado, muitas vezes maior que os contratos para proteger os 33 ministros do STJ.
O Ministério da Saúde, em vez de tratar das epidemias, dá prioridade às coisas de inteligência e espionagem. "Estranhas relações com o mundo dos arapongas", é manchete do Correio Braziliense. E a revista IstoÉ desta semana: "Grampos, chantagem e baixarias".
São tantas as conexões, tantas as evidências, que não há como esconder a ligação dos atos contra a governadora do Maranhão à sucessão brasileira, que querem transformar numa farsa.
O que você acha: Naquela época e hoje, coincidência ou Serra? Quantos metros de altura terá o tapete que esconde a poeira das histórias do bigodudo do Maranhão? Por que só estão sendo ventiladas agora?
Extraído do Blog do Mello
Em 8 de fevereiro fiz esta postagem, que continua atual - ou está mais atual ainda. Por isso a repito, com acréscimos:
Não sei quanto a vocês, mas eu achei muito, mas muuuito estranho mesmo que tenham surgido denúncias contra os Sarney, na mesma semana em que o bigode acadêmico chegou à presidência do Senado.
Simples coincidência ou aí tem o dedo de... você sabe quem: aquele político que trabalha nos bastidores, usando de espionagem, demitindo jornalistas e maestros, apoiado pelos jornalões, especialmente os paulistas.
Pois ontem, o Estadão publicou matéria com o vazamento de um grampo da PF que teria flagrado uma possível ajuda da ABIN à família Sarney. Hoje foi o dia da Folha (aqui, para assinantes). Em novo vazamento de grampo da PF, Sarney é acusado de ter usado jornal e TV de sua propriedade para atacar seu adversário político no Maranhão, Jackson Lago. Repito: simples coincidência?
A vitória de Sarney representou uma dupla derrota para os opositores de Lula: primeiro, porque Garibaldi Aves se assanhou na presidência e vivia complicando votações de interesse do governo. Segundo, e mais importante, porque Sarney é adversário de José Serra, a quem considera como o principal responsável pelo escândalo que, em 2002, derrubou a candidatura de Roseana Sarney ao Palácio do Planalto.
Outro dia mesmo o Azenha publicou em seu blog o discurso de Sarney naquela época, de onde destaquei o trecho a seguir:
Há um fato cuja recorrência impressiona e intriga. É que toda referência a esse estilo característico de espionagem e dossiês nasce no Ministério da Saúde e envolve o ex-ministro José Serra. Não é afirmação minha, é dos jornais. Mais que uma estratégia de campanha parece uma concepção de governo.
A primeira matéria que surgiu foi na revista Carta Capital, há cerca de um ano. Aqui está o plano anunciado, que aconteceu exatamente como previsto. Leio a revista:
'...no Ministério da Saúde se teria produzido um conjunto de informações sobre atividades de Paulo Renato. Informações explosivas, pois indicariam uma das trilhas montadas pelo grupo em sua escalada rumo ao poder. Ainda segundo a história do dossiê, este teria sido montado no Ministério da Saúde, mais precisamente na Agência Nacional de Vigilância Sanitária, onde funcionaria um sistema espionagem. ...Eram sete os agentes, incluídos um ex-SNI e SAE [hoje Abin] e um ex-chefe da Inteligência da Polícia Federal no governo Fernando Henrique.' E dá os detalhes.
A imprensa em quase sua totalidade publica que esse mesmo grupo está conectado para essas ações políticas na Polícia Federal e no Ministério Público citando o delegado Marcelo Itagiba, ex-chefe do Departamento de Inteligência da Polícia Federal, ex-chefe do grupo de inteligência que se formou no Ministério da Saúde e que é, atualmente, o superintendente da Polícia Federal no Rio de Janeiro, e o Procurador José Roberto Santoro. É o que diz a Folha de S.Paulo.
'Delegado e procurador ligados a Serra atuam em investigações: o presidenciável tucano, senador José Serra (SP), conseguiu reunir sob as asas de aliados as duas principais investigações em curso que podem implodir a campanha de seus adversários. São eles o subprocurador da República José Roberto Santoro e o delegado de Polícia Federal Marcelo Itagiba.'
Continuo lendo: 'Em viagem a Palmas (Tocantins), há duas semanas, o subprocurador Santoro coordenou informalmente o pedido de busca e apreensão de documentos no escritório da pré-candidata pefelista e governadora do Maranhão, Roseana Sarney. Trocou idéias com o procurador Mário Lúcio Avelar, que foi o autor do pedido, e orientou a estratégia a ser adotada.'
'José Roberto Santoro e Marcelo Itagiba fazem parte da tropa de choque de Serra no aparato policial e de investigação. Os dois já estiveram juntos antes.'
'Ex-assessor especial de Serra no Ministério da Saúde, nos dois anos anteriores, o delegado Itagiba havia demonstrado grande desenvoltura no exercício de suas funções. No dia 9 de março de 1999, por exemplo, representou o então ministro numa reunião com a diretoria da Abifarma (Associação Brasileira da Indústria Farmacêutica).'
'Foi propor aos donos e dirigentes de laboratórios brasileiros que investissem dinheiro numa entidade não-governamental a ser criada para investigar e combater a falsificação de medicamentos. A proposta foi aprovada, segundo ata da reunião.'
Não estou inventando nada sobre ninguém. Estou lendo o que foi publicado. Não houve nenhum desmentido.
Naquele tempo do noticiário da revista Carta Capital, a governadora do Maranhão não era o alvo, eram os concorrentes internos, Pedro Malan, Tasso Jereissati, Paulo Renato. O primeiro explodiu pelo veto político, foi fácil. Dossiê foi feito contra Paulo Renato, diz a revista. Tasso Jereissati também foi objeto de outro dossiê, para ser usado caso insistisse em ser candidato. Disseminou-se o método e o medo.
A serem verdade as aparências, montou-se um grupo estatal para ações políticas. Na Folha de S. Paulo, a jornalista Mônica Bergamo publica:
"Uma das primeiras atitudes do Procurador Mário Lúcio Avelar, do Tocantins, ao colocar as mãos na documentação apreendida foi disparar telefonemas para o procurador Santoro, considerado o mais próximo do candidato Serra."
"Gente, querem dizer que isso é do Serra? Então escreve: sou o procurador do Serra."
Na Saúde, o ministro Serra multiplicou gastos com empresa de ex-chefe de Telecomunicações Eletrônicas do SNI e professor da Polícia Federal. A Fence tem contratos hoje de R$ 1,87 milhão, seis vezes mais do que no ano passado, muitas vezes maior que os contratos para proteger os 33 ministros do STJ.
O Ministério da Saúde, em vez de tratar das epidemias, dá prioridade às coisas de inteligência e espionagem. "Estranhas relações com o mundo dos arapongas", é manchete do Correio Braziliense. E a revista IstoÉ desta semana: "Grampos, chantagem e baixarias".
São tantas as conexões, tantas as evidências, que não há como esconder a ligação dos atos contra a governadora do Maranhão à sucessão brasileira, que querem transformar numa farsa.
O que você acha: Naquela época e hoje, coincidência ou Serra? Quantos metros de altura terá o tapete que esconde a poeira das histórias do bigodudo do Maranhão? Por que só estão sendo ventiladas agora?
quinta-feira, 18 de junho de 2009
BRASIL meu BRASIL Brasileiro...
Segunda-feira, 24 de Março de 2008
Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de assinatura de ordens de início das obras do PAC em Araraquara
Vou tomar um pouquinho de água. A diferença do Lula presidente, aqui em Araraquara, e o Lula metalúrgico, na porta de fábrica, é que lá, quando eu ia fazer assembléia às 5h da manhã, era obrigado a tomar uma coisa mais quente do que água para poder falar, e como presidente eu estou com uma aguinha aqui.
(...)
Primeiro, antes de falar das obras que tantas pessoas já falaram, eu quero que vocês compreendam um pouco o que está acontecendo no Brasil neste momento. Tem muita gente que diz que as coisas estão dando cento no Brasil porque o Lula tem sorte. Obviamente, que eu prefiro ser o Lula com sorte do que o Lula sem sorte, porque não há na vida nada que aconteça, para nenhum de nós, se a gente não tiver um pouco de sorte. Mas o que está acontecendo no Brasil é uma coisa que nós preparamos e muitos dos ensinamentos que eu aprendi na minha vida cotidiana eu coloco em prática na arte de governar este País.Eu me casei pela primeira vez em 1969 e assumi o compromisso, com a minha mulher, de que eu só ia pagar um ano de aluguel e depois eu ia comprar uma casa. Para poder comprar essa casa, no primeiro ano de casados – eu e a mulher trabalhando – nós nunca fomos a um restaurante, nós nunca fomos ao cinema, porque a cada vez que eu ia pagar o aluguel, eu achava aquele dinheiro amaldiçoado. Era um dinheiro que eu dava e eu sabia que não estava construindo nada para mim. Fizemos um ano de sacrifício, não tinha restaurante, não tinha cinema, não tinha teatro, não tinha festa, não tinha roupa nova, não tinha nada. Um ano depois, eu comprei a minha primeira casa. Quem conhece São Paulo, era no Parque Bristol, era uma ribanceira tão grande que, quando chovia, a gente quase não conseguia ir trabalhar, porque não tinha guia, não tinha sarjeta, o barro virava uma cola e eu tinha que colocar uma galocha, andar a pé até o asfalto, tirar a galocha, embrulhar em um jornal e levar para a fábrica. Quando chegava à fábrica, lavava, deixava secar e à tarde, quando eu saía da fábrica, descia do ônibus, na padaria, colocava a galocha, chegava em casa, tirava a galocha. Mais um pouco e eu pegaria o apelido de Lula Galocha.Dois anos depois, minha mulher morreu, eu fiquei quatro anos viúvo, me casei outra vez. Tinha vendido a casa porque eu tinha me mudado para São Bernardo. Quando eu me casei com a Marisa, eu assumi um compromisso: em um ano a gente vai comprar outra casa. Não deu para comprar em um ano, eu comprei a casa em um ano e seis meses. A Marisa trabalhava, eu trabalhava, outra vez não tinha restaurante, não tinha cinema, não tinha roupa nova. Qualquer dinheiro que a gente ganhava era guardado para a gente comprar a casa. Um ano e meio depois, eu comprei uma casinha do BNH,com 33m2. Imaginem o tamanho da casa: quando um filho ia dormir, o outro tinha que se levantar; quando colocava o fogão, tinha que tirar a geladeira; se esticasse o pé no quarto, o pé saía pela janela. Nunca reclamei, porque não sou feito para reclamar. Eu aprendi que, em vez de reclamar, nós temos que fazer as transformações que acreditamos que seja possível fazer, e fazê-las.Eu contei esses dois casos para chegar ao Brasil. Aqui tem extraordinários companheiros e companheiras que vieram comigo, intelectuais da mais alta competência deste País. Essas pessoas sabem, como muitos de vocês aqui em Araraquara sabem que, quando eu tomei posse, muita gente dizia: “Coitado do Lula. O Brasil está quebrado”. Primeiro, o Brasil não tinha credibilidade externa, a gente não tinha dinheiro para pagar as nossas importações, o dinheiro que a gente tinha de reserva eram 30 bilhões de dólares, emprestados pelo FMI, e a gente estava com os juros na estratosfera. A inflação já tinha ultrapassado os dois dígitos, e a situação era que “o Brasil vai quebrar”.A primeira coisa que nós fizemos, no ano de 2003, foi o maior aperto que este País já conheceu. Eu perdi até amigos que achavam que eu podia fazer a transformação no primeiro ano ou no primeiro mês. Perdi muitos amigos que achavam que eu não ia fazer nada, porque os juros continuavam altos, porque o Brasil não crescia, porque tinha desemprego. E nós fizemos o ano de maior sacrifício neste País. Aumentamos, inclusive, o superávit primário: era de 3,75% e nós levamos para 4,25%. Por quê? Porque eu precisava fazer um sinal para os credores brasileiros de que a gente ia garantir o pagamento daquilo que era a dívida contraída por nós mesmos.Passamos 2003, 2004 deu uma melhorada, a inflação começou a voltar e nós tivemos que aumentar juros outra vez. Passamos 2005 muito apertados. Todo mundo acompanhou pela televisão o que os partidos de oposição tentaram fazer conosco. Todo mundo, aqui neste País, acompanhou o que uma parte da imprensa fez conosco em 2005 e em 2006. E em nenhum momento vocês me viram nervoso porque eu tinha objetivos, eu tinha propósitos. Eu sempre dizia: qualquer governante neste País pode errar, que não tem problema, o povo já está acostumado com erros de governantes. O povo elege um governante e ele não cumpre 10% do que prometeu. Quando termina o seu mandato ele vai embora, estudar lá fora, fica quatro anos fora, depois regressa como se nada tivesse acontecido, e ainda se candidata outra vez.Eu dizia: eu não posso errar, porque se eu errar, tem duas coisas graves que vão acontecer. Primeiro, eu não posso ir para fora, não quero ir para fora. Quando eu perdi as eleições, me ofereceram um curso em Harvard, para que eu fosse me preparar, aprender inglês, que eu ia ficar mais “chiquérrimo”. Obviamente que tinha vontade de fazer tudo isso, mas eu achava que se eu quisesse ser presidente do Brasil, eu precisava conhecer a alma deste País, viajar este País, viajar os grotões deste País, conhecer a cara do povo deste País. Pois bem, esta é a primeira razão pela qual eu não posso errar. A outra é porque vindo de onde eu vim e chegar à Presidência da República... porque também não estava nos livros de sociologia um operário ser presidente da República do Brasil. Imaginava-se que se houvesse uma revolução, um operário poderia chegar à Presidência da República. Mas não tem, também, nenhum país que fez revolução em que um operário que chegou à Presidência da República, normalmente era alguém mais sabido do que o operário, intelectualmente. Então, o Brasil construiu uma coisa sui generis.O Brasil é uma das dez maiores nações do mundo e o nosso processo cultural, o nosso processo democrático permitiu que um metalúrgico, que só tem um curso do Senai, chegasse à Presidência da República deste País. E eu dizia: por que eu não posso errar? Porque se eu errar, eles vão colocar uma cangalha no nosso pescoço e vão passar 150 anos ou 200 anos para as pessoas admitirem que um operário pode chegar à Presidência da República.Então, todo o sacrifício que nós fizemos permitiu que a gente pudesse estar vivendo o momento que estamos vivendo hoje. Nós, que tínhamos apenas 30 bilhões de reais de reservas, dos quais 15 bilhões e 900 milhões do FMI, hoje temos quase 200 bilhões de dólares de reservas, não devemos nada ao FMI, não devemos nada ao Clube de Paris e não devemos nada a ninguém. O que nós devemos são as compras que fazemos. Hoje o Brasil, que desde que Cabral colocou os pés aqui sempre deveu para alguém, na história de 500 anos o Brasil sempre deveu para alguém, hoje, graças a Deus, o Brasil é credor internacional, nós temos mais reservas do que nós devemos.O Hélio e os sindicalistas aqui presentes sabem que eu fui um sindicalista razoavelmente importante neste País. Fiz as lutas mais memoráveis do final dos anos 70 e do começo dos anos 80, e nunca a gente conseguia aumento real de salário. A inflação era de 83% ao ano, era de 50%, era de 70%, era de 90%. Pois bem, quando a gente pegava a metade da inflação, já era uma vitória. Eu fiz greve de 41 dias e voltamos a trabalhar sem receber um centavo de aumento. O que está acontecendo agora, companheiros sindicalistas? Noventa e seis por cento dos acordos feitos pelos sindicatos são acordos feitos acima da inflação, com aumento real de salário.Aqui no Brasil pobre não tinha acesso a banco. Aliás, os bancos tinham desaprendido a atender pobre. Até o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal tinham desaprendido a atender pobre. Era muito melhor atender um cidadão de chapelão, com charuto na boca, do que atender um cidadão com uma sandália havaiana no pé. O que nós fizemos? Nós resolvemos fazer crédito para o povo pobre deste País. Criamos o crédito consignado, já que os bancos diziam que não emprestavam dinheiro para pobre porque o pobre podia não pagar. Nós demos a folha de pagamento como garantia. Os aposentados brasileiros nunca tinham condições de fazer um empréstimo. Criamos o empréstimo consignado para o aposentado. Qualquer aposentado, hoje, pode ir a um banco, de preferência escolher o que tem os juros mais baratos, contrair o empréstimo e só pagar 30% do seu salário. Não pode pagar mais. E o que começou a acontecer no Brasil? As pessoas começaram a comer mais, a gastar um pouco mais, a comprar coisas essenciais. Criamos o programa Bolsa Família, que muita gente dizia: “isso é assistencialismo”. As pessoas não sabem o que significam 50 reais na mão de uma mãe pobre. Com 50 reais que nós damos de gorjeta em um bar, quando tomamos cerveja, uma mãe consegue colocar comida em casa para os seus filhos, por 10 ou 15 dias. E hoje atendemos 11 milhões de famílias, são 44 milhões de brasileiros que podem comer três refeições por dia.Eu vi o depoimento de uma mulher que eu coloquei na televisão, ela dizia: “antes do Bolsa Família, eu tinha duas netas que moravam comigo, eu comprava um lápis e cortava o lápis ao meio para que cada criança tivesse metade”. Hoje ela pode comprar uma caixa de lápis para cada neta e não precisa repartir. Esses dias, a imprensa foi atrás de uma mulher do Bolsa Família porque ela comprou uma geladeira e aí já acharam que ela era burguesa, não precisava mais do Bolsa Família. Eu quero que ela compre geladeira, eu quero que ela compre televisão, eu quero que ela compre roupa, eu quero que ela compre sapatos. É preciso acabar, neste País, com o preconceito contra os pobres. É preciso acabar, neste País, com a idéia de que os do andar de baixo não podem nada e que os do andar de cima podem tudo. É preciso que as pessoas percebam que nós precisamos – se quisermos ter um país vivendo em paz, com muita liberdade e democracia – estender a mão para aqueles que não tiveram chance no século XXI.Ontem eu fui a uma formatura da Universidade Zumbi dos Palmares. É a primeira vez, em 500 anos de história deste País, que nós conseguimos formar, de uma única vez, e entregar o diploma para 120 meninas e meninos negros deste País, que são segregados há séculos e séculos. Este ano, nós vamos ter a primeira turma formada pelo ProUni. São 60 mil jovens que tiraram o diploma pelo ProUni e 40% desses são negros e negras. É preciso acabar com essa história de que nordestino e negro têm que ser pedreiros, ajudantes de pedreiro ou cortadores de cana. Nós não temos vergonha de ser pedreiros ou cortadores de cana, mas queremos ser engenheiros, queremos ser médicos, queremos ser (inaudível), queremos ser tudo aquilo a que temos direito neste País.Meus companheiros e companheiras, eu fui sexta-feira ao Rio de Janeiro lançar o PAC no Complexo do Alemão, que vocês aqui em Araraquara só vêem, pela televisão, pela criminalidade. Fui à Rocinha, que também a gente só vê pela criminalidade, e fui em Manguinhos, que é chamado de Faixa de Gaza, porque tem batalha todos os dias. Tem a linha do trem e um muro que divide. O muro é a Faixa de Gaza, é uma quadrilha atirando na outra quadrilha. Nós fomos lançar o PAC lá, levar água, levar esgoto, fazer ruas, levar escola, levar hospital, levar teleférico para as pessoas descerem o morro. Hoje leva 2 horas, vai demorar 19 minutos quando estiver pronto o teleférico. Tem muita gente que fala: “o Lula está gastando muito dinheiro com os pobres, o Lula precisa fazer mais investimentos”. Porque neste País, também se aprendeu que tudo que a gente dá para o rico é investimento e tudo que a gente dá para o pobre é gasto, quando eu acho que é o contrário. Eu acho que a gente colocar dinheiro na mão do pobre é investimento neste País.Hoje o Brasil está vivendo um momento, eu diria, quase mágico. Eu me lembro que quando eu tomei posse a indústria automobilística me procurou dizendo: “nós estamos quebrados, temos muita empresa querendo ir embora”. E ontem eu recebi uma carta: eles saíram de 2 milhões e 200 mil carros, e estão prometendo produzir 4 milhões de carros em 2009. Qual foi o milagre? O milagre foi uma coisa que a gente vinha dizendo para eles há 20 anos: com 24 meses de prestação, só pode comprar um carro o setor da classe média. Se vocês quiserem que o pobre compre um carro, aumentem o número de prestações, porque o pobre não olha o custo final, ele olha se a prestação cabe no holerite dele, se cabe no bolso dele. Hoje as pessoas estão esperando três meses para comprar um carro; caminhão, nove meses, se for caminhão pesado; máquinas agrícolas, não tem mais no mercado. Não tem pedreiro, não tem engenheiro, não tem azulejista. Por que não tem? Porque durante 26 anos este País estava preparado para não crescer. Havia uma lógica entre os economistas do governo de que o Brasil não poderia crescer mais do que 3% ao ano. Nós queremos provar que o Brasil pode crescer 3%, 4%, 5%, 6% e quanto a economia suportar. Qual é o cuidado que nós temos que ter? O consumo não pode crescer acima da capacidade produtiva do País. Até pode, porque a gente pode importar um pouco. Mas é preciso que a gente tenha cuidado porque, se cresce muito o consumo e a indústria não investe em novas fábricas, em nova produção, a gente tem de volta uma doença desgraçada – que nós não gostamos dela – que é a inflação, que muitas vezes favorece o rico e quem paga o preço é o pobre que vive de salário neste País.Pois bem, hoje eu posso dizer para vocês, sem medo de errar: vivemos o melhor momento do País, dos últimos 30 anos, e com possibilidade de melhorar ainda mais. Só para saneamento básico são 40 bilhões de reais; para habitação são 106 bilhões de reais. Mais ainda, só da Funasa são 4 bilhões de reais para atender cidades de até 50 mil habitantes, de preferência aquelas que têm mais mortalidade infantil, aquelas que têm doença de Chagas. Criamos o programa de Financiamento de Habitação Social: foram 2 bilhões no ano passado e 2 bilhões neste ano. A economia brasileira vai continuar crescendo, o salário vai continuar crescendo, o consumo vai continuar crescendo, as indústrias vão continuar investindo, e eu tenho a convicção de que daqui a 10 ou 15 anos a gente vai poder ter, neste País, uma geração que viveu 10 ou 15 anos com a economia brasileira crescendo, vendo a nossa juventude arrumar emprego.Cada vez, Marilena Chauí, que eu vejo a televisão mostrar um assalto ou um crime, ela mostra um jovem de 17, 15, 30 anos. Eu não estou aqui defendendo que esse jovem cometa crime, não. Ele tem que ser punido. Agora, é importante saber que esse jovem é resultado do descaso de 30 anos de administração pública deste País, em que os pobres foram sendo segregados, as famílias foram vivendo um processo de degradação pela miséria, sem perspectiva, sem escola. Essas crianças não tinham oportunidade. É por isso que nós vamos fazer 214 escolas técnicas; é por isso que nós vamos fazer 10 novas universidades federais; é por isso que nós vamos fazer 48 extensões universitárias; é por isso que nós aumentamos de 8 para 9 anos o tempo de permanência da criança nas escolas; é por isso que, na semana que vem, vamos anunciar internet banda larga em 55 mil escolas das cidades brasileiras, para que o nosso jovem possa viajar para onde ele quiser, pela internet, possa estudar e possa competir com qualquer outro, mesmo que seja de classe social mais privilegiada.Este País está sendo construído porque um dia vocês acreditaram. O grande desafio que nós temos é elevar a auto-estima deste País, é acreditar que a gente pode, é acreditar que nós temos que ser persistentes. Até porque, se eu não fosse persistente eu teria desistido na primeira derrota, em 82, quando eu perdi para o governo de São Paulo. Eu teria desistido em 89, quando eu perdi para o Collor. Eu teria desistido em 94, quando eu perdi para o Fernando Henrique Cardoso. Eu teria desistido em 98, quando eu perdi outra vez para o Fernando Henrique Cardoso. Mas eu acreditava tanto que eu podia chegar lá e, chegando lá, que a gente podia mudar a cara deste País, que nós chegamos lá, por persistência, perseverança, que é uma coisa que o ser humano não pode perder nunca. Não há espaço na vida humana, a vida humana é muito curta na Terra, não há espaço para a gente se levantar de manhã e dizer: “Ah, está uma desgraça, as coisas não dão certo, estou desanimado.” Não existe espaço para isso. O dia que você acordar acabrunhado ou acabrunhada, e achar que está tudo errado, vá à luta, levante a cabeça, acredite em você, que a gente muda a nossa vida e muda este País.É por isso, meu companheiro Edinho, que com muito orgulho estou aqui, porque em 2006 eu vim aqui num comício, e no comício eu disse que ia tirar essa ferrovia. Essa ferrovia, todo mundo sabe, a parte mais rica da sociedade morava do trilho para o centro, e a parte mais pobre era do trilho para a periferia. Então, nós vamos acabar com essa divisão social. Esse trilho tem que ser símbolo do desenvolvimento de Araraquara e não símbolo da divisão de classes, aqui na cidade de Araraquara. Vamos tirar. Eu prometi. No ano passado veio o meu Ministro do Planejamento, no dia da publicação do edital. Hoje eu vim com o meu Ministro dos Transportes para dizer: essas obras vão começar agora e em 2010, se Deus quiser, eu estarei aqui para inaugurar o novo terminal. E onde hoje tem trilho, vamos plantar flores para a gente alegrar ainda mais o povo da Morada do Sol, o povo desta cidade extraordinária.Por isso, meus queridos companheiros e companheiras, eu estou feliz. Primeiro, pela escola homenageando a Gilda. Eu tive pouco contato com a Gilda, mas tenho uma profunda admiração e sou muito amigo do seu companheiro, o nosso, não menor, Antônio Cândido. A segunda coisa foi vir aqui, Edinho, junto com você... O Edinho é uma dessas coisas boas que acontecem na vida de uma cidade. O Edinho é um companheiro, conheço poucos como ele, desprovido de interesses, eu nunca vi o Edinho rancoroso, nunca vi o Edinho nervoso. E somente quem se levanta de bem com a vida é que pode ser assim. A gente se levantar todo dia acreditando que vai ser melhor, acreditando que vai conseguir...Então, eu queria me despedir dizendo para vocês: nós, brasileiros e brasileiras, pobres e ricos, pretos e brancos, a gente pode construir esta nação, uma grande nação. O Brasil jogou fora muitas oportunidades, eu não vou jogar fora as oportunidades. Quando nós estamos investindo em educação é porque eu acho que não tem outra saída. Ou a gente forma a nossa juventude, qualifica a nossa juventude e começa a exportar não só suco de laranja, não só minério de ferro, não só soja, mas exportar inteligência, conhecimento, porque é isso que vai colocar valor agregado e dar dimensão de nação desenvolvida ao Brasil.Por isso, muito obrigado, de coração, Edinho. Muito obrigado pelo prazer de estar aqui hoje, nesta querida cidade de Araraquara, voltando aqui, e prometendo voltar para inaugurar o contorno ferroviário.Um beijo e um abraço.
Discurso do presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, na cerimônia de assinatura de ordens de início das obras do PAC em Araraquara
Vou tomar um pouquinho de água. A diferença do Lula presidente, aqui em Araraquara, e o Lula metalúrgico, na porta de fábrica, é que lá, quando eu ia fazer assembléia às 5h da manhã, era obrigado a tomar uma coisa mais quente do que água para poder falar, e como presidente eu estou com uma aguinha aqui.
(...)
Primeiro, antes de falar das obras que tantas pessoas já falaram, eu quero que vocês compreendam um pouco o que está acontecendo no Brasil neste momento. Tem muita gente que diz que as coisas estão dando cento no Brasil porque o Lula tem sorte. Obviamente, que eu prefiro ser o Lula com sorte do que o Lula sem sorte, porque não há na vida nada que aconteça, para nenhum de nós, se a gente não tiver um pouco de sorte. Mas o que está acontecendo no Brasil é uma coisa que nós preparamos e muitos dos ensinamentos que eu aprendi na minha vida cotidiana eu coloco em prática na arte de governar este País.Eu me casei pela primeira vez em 1969 e assumi o compromisso, com a minha mulher, de que eu só ia pagar um ano de aluguel e depois eu ia comprar uma casa. Para poder comprar essa casa, no primeiro ano de casados – eu e a mulher trabalhando – nós nunca fomos a um restaurante, nós nunca fomos ao cinema, porque a cada vez que eu ia pagar o aluguel, eu achava aquele dinheiro amaldiçoado. Era um dinheiro que eu dava e eu sabia que não estava construindo nada para mim. Fizemos um ano de sacrifício, não tinha restaurante, não tinha cinema, não tinha teatro, não tinha festa, não tinha roupa nova, não tinha nada. Um ano depois, eu comprei a minha primeira casa. Quem conhece São Paulo, era no Parque Bristol, era uma ribanceira tão grande que, quando chovia, a gente quase não conseguia ir trabalhar, porque não tinha guia, não tinha sarjeta, o barro virava uma cola e eu tinha que colocar uma galocha, andar a pé até o asfalto, tirar a galocha, embrulhar em um jornal e levar para a fábrica. Quando chegava à fábrica, lavava, deixava secar e à tarde, quando eu saía da fábrica, descia do ônibus, na padaria, colocava a galocha, chegava em casa, tirava a galocha. Mais um pouco e eu pegaria o apelido de Lula Galocha.Dois anos depois, minha mulher morreu, eu fiquei quatro anos viúvo, me casei outra vez. Tinha vendido a casa porque eu tinha me mudado para São Bernardo. Quando eu me casei com a Marisa, eu assumi um compromisso: em um ano a gente vai comprar outra casa. Não deu para comprar em um ano, eu comprei a casa em um ano e seis meses. A Marisa trabalhava, eu trabalhava, outra vez não tinha restaurante, não tinha cinema, não tinha roupa nova. Qualquer dinheiro que a gente ganhava era guardado para a gente comprar a casa. Um ano e meio depois, eu comprei uma casinha do BNH,com 33m2. Imaginem o tamanho da casa: quando um filho ia dormir, o outro tinha que se levantar; quando colocava o fogão, tinha que tirar a geladeira; se esticasse o pé no quarto, o pé saía pela janela. Nunca reclamei, porque não sou feito para reclamar. Eu aprendi que, em vez de reclamar, nós temos que fazer as transformações que acreditamos que seja possível fazer, e fazê-las.Eu contei esses dois casos para chegar ao Brasil. Aqui tem extraordinários companheiros e companheiras que vieram comigo, intelectuais da mais alta competência deste País. Essas pessoas sabem, como muitos de vocês aqui em Araraquara sabem que, quando eu tomei posse, muita gente dizia: “Coitado do Lula. O Brasil está quebrado”. Primeiro, o Brasil não tinha credibilidade externa, a gente não tinha dinheiro para pagar as nossas importações, o dinheiro que a gente tinha de reserva eram 30 bilhões de dólares, emprestados pelo FMI, e a gente estava com os juros na estratosfera. A inflação já tinha ultrapassado os dois dígitos, e a situação era que “o Brasil vai quebrar”.A primeira coisa que nós fizemos, no ano de 2003, foi o maior aperto que este País já conheceu. Eu perdi até amigos que achavam que eu podia fazer a transformação no primeiro ano ou no primeiro mês. Perdi muitos amigos que achavam que eu não ia fazer nada, porque os juros continuavam altos, porque o Brasil não crescia, porque tinha desemprego. E nós fizemos o ano de maior sacrifício neste País. Aumentamos, inclusive, o superávit primário: era de 3,75% e nós levamos para 4,25%. Por quê? Porque eu precisava fazer um sinal para os credores brasileiros de que a gente ia garantir o pagamento daquilo que era a dívida contraída por nós mesmos.Passamos 2003, 2004 deu uma melhorada, a inflação começou a voltar e nós tivemos que aumentar juros outra vez. Passamos 2005 muito apertados. Todo mundo acompanhou pela televisão o que os partidos de oposição tentaram fazer conosco. Todo mundo, aqui neste País, acompanhou o que uma parte da imprensa fez conosco em 2005 e em 2006. E em nenhum momento vocês me viram nervoso porque eu tinha objetivos, eu tinha propósitos. Eu sempre dizia: qualquer governante neste País pode errar, que não tem problema, o povo já está acostumado com erros de governantes. O povo elege um governante e ele não cumpre 10% do que prometeu. Quando termina o seu mandato ele vai embora, estudar lá fora, fica quatro anos fora, depois regressa como se nada tivesse acontecido, e ainda se candidata outra vez.Eu dizia: eu não posso errar, porque se eu errar, tem duas coisas graves que vão acontecer. Primeiro, eu não posso ir para fora, não quero ir para fora. Quando eu perdi as eleições, me ofereceram um curso em Harvard, para que eu fosse me preparar, aprender inglês, que eu ia ficar mais “chiquérrimo”. Obviamente que tinha vontade de fazer tudo isso, mas eu achava que se eu quisesse ser presidente do Brasil, eu precisava conhecer a alma deste País, viajar este País, viajar os grotões deste País, conhecer a cara do povo deste País. Pois bem, esta é a primeira razão pela qual eu não posso errar. A outra é porque vindo de onde eu vim e chegar à Presidência da República... porque também não estava nos livros de sociologia um operário ser presidente da República do Brasil. Imaginava-se que se houvesse uma revolução, um operário poderia chegar à Presidência da República. Mas não tem, também, nenhum país que fez revolução em que um operário que chegou à Presidência da República, normalmente era alguém mais sabido do que o operário, intelectualmente. Então, o Brasil construiu uma coisa sui generis.O Brasil é uma das dez maiores nações do mundo e o nosso processo cultural, o nosso processo democrático permitiu que um metalúrgico, que só tem um curso do Senai, chegasse à Presidência da República deste País. E eu dizia: por que eu não posso errar? Porque se eu errar, eles vão colocar uma cangalha no nosso pescoço e vão passar 150 anos ou 200 anos para as pessoas admitirem que um operário pode chegar à Presidência da República.Então, todo o sacrifício que nós fizemos permitiu que a gente pudesse estar vivendo o momento que estamos vivendo hoje. Nós, que tínhamos apenas 30 bilhões de reais de reservas, dos quais 15 bilhões e 900 milhões do FMI, hoje temos quase 200 bilhões de dólares de reservas, não devemos nada ao FMI, não devemos nada ao Clube de Paris e não devemos nada a ninguém. O que nós devemos são as compras que fazemos. Hoje o Brasil, que desde que Cabral colocou os pés aqui sempre deveu para alguém, na história de 500 anos o Brasil sempre deveu para alguém, hoje, graças a Deus, o Brasil é credor internacional, nós temos mais reservas do que nós devemos.O Hélio e os sindicalistas aqui presentes sabem que eu fui um sindicalista razoavelmente importante neste País. Fiz as lutas mais memoráveis do final dos anos 70 e do começo dos anos 80, e nunca a gente conseguia aumento real de salário. A inflação era de 83% ao ano, era de 50%, era de 70%, era de 90%. Pois bem, quando a gente pegava a metade da inflação, já era uma vitória. Eu fiz greve de 41 dias e voltamos a trabalhar sem receber um centavo de aumento. O que está acontecendo agora, companheiros sindicalistas? Noventa e seis por cento dos acordos feitos pelos sindicatos são acordos feitos acima da inflação, com aumento real de salário.Aqui no Brasil pobre não tinha acesso a banco. Aliás, os bancos tinham desaprendido a atender pobre. Até o Banco do Brasil e a Caixa Econômica Federal tinham desaprendido a atender pobre. Era muito melhor atender um cidadão de chapelão, com charuto na boca, do que atender um cidadão com uma sandália havaiana no pé. O que nós fizemos? Nós resolvemos fazer crédito para o povo pobre deste País. Criamos o crédito consignado, já que os bancos diziam que não emprestavam dinheiro para pobre porque o pobre podia não pagar. Nós demos a folha de pagamento como garantia. Os aposentados brasileiros nunca tinham condições de fazer um empréstimo. Criamos o empréstimo consignado para o aposentado. Qualquer aposentado, hoje, pode ir a um banco, de preferência escolher o que tem os juros mais baratos, contrair o empréstimo e só pagar 30% do seu salário. Não pode pagar mais. E o que começou a acontecer no Brasil? As pessoas começaram a comer mais, a gastar um pouco mais, a comprar coisas essenciais. Criamos o programa Bolsa Família, que muita gente dizia: “isso é assistencialismo”. As pessoas não sabem o que significam 50 reais na mão de uma mãe pobre. Com 50 reais que nós damos de gorjeta em um bar, quando tomamos cerveja, uma mãe consegue colocar comida em casa para os seus filhos, por 10 ou 15 dias. E hoje atendemos 11 milhões de famílias, são 44 milhões de brasileiros que podem comer três refeições por dia.Eu vi o depoimento de uma mulher que eu coloquei na televisão, ela dizia: “antes do Bolsa Família, eu tinha duas netas que moravam comigo, eu comprava um lápis e cortava o lápis ao meio para que cada criança tivesse metade”. Hoje ela pode comprar uma caixa de lápis para cada neta e não precisa repartir. Esses dias, a imprensa foi atrás de uma mulher do Bolsa Família porque ela comprou uma geladeira e aí já acharam que ela era burguesa, não precisava mais do Bolsa Família. Eu quero que ela compre geladeira, eu quero que ela compre televisão, eu quero que ela compre roupa, eu quero que ela compre sapatos. É preciso acabar, neste País, com o preconceito contra os pobres. É preciso acabar, neste País, com a idéia de que os do andar de baixo não podem nada e que os do andar de cima podem tudo. É preciso que as pessoas percebam que nós precisamos – se quisermos ter um país vivendo em paz, com muita liberdade e democracia – estender a mão para aqueles que não tiveram chance no século XXI.Ontem eu fui a uma formatura da Universidade Zumbi dos Palmares. É a primeira vez, em 500 anos de história deste País, que nós conseguimos formar, de uma única vez, e entregar o diploma para 120 meninas e meninos negros deste País, que são segregados há séculos e séculos. Este ano, nós vamos ter a primeira turma formada pelo ProUni. São 60 mil jovens que tiraram o diploma pelo ProUni e 40% desses são negros e negras. É preciso acabar com essa história de que nordestino e negro têm que ser pedreiros, ajudantes de pedreiro ou cortadores de cana. Nós não temos vergonha de ser pedreiros ou cortadores de cana, mas queremos ser engenheiros, queremos ser médicos, queremos ser (inaudível), queremos ser tudo aquilo a que temos direito neste País.Meus companheiros e companheiras, eu fui sexta-feira ao Rio de Janeiro lançar o PAC no Complexo do Alemão, que vocês aqui em Araraquara só vêem, pela televisão, pela criminalidade. Fui à Rocinha, que também a gente só vê pela criminalidade, e fui em Manguinhos, que é chamado de Faixa de Gaza, porque tem batalha todos os dias. Tem a linha do trem e um muro que divide. O muro é a Faixa de Gaza, é uma quadrilha atirando na outra quadrilha. Nós fomos lançar o PAC lá, levar água, levar esgoto, fazer ruas, levar escola, levar hospital, levar teleférico para as pessoas descerem o morro. Hoje leva 2 horas, vai demorar 19 minutos quando estiver pronto o teleférico. Tem muita gente que fala: “o Lula está gastando muito dinheiro com os pobres, o Lula precisa fazer mais investimentos”. Porque neste País, também se aprendeu que tudo que a gente dá para o rico é investimento e tudo que a gente dá para o pobre é gasto, quando eu acho que é o contrário. Eu acho que a gente colocar dinheiro na mão do pobre é investimento neste País.Hoje o Brasil está vivendo um momento, eu diria, quase mágico. Eu me lembro que quando eu tomei posse a indústria automobilística me procurou dizendo: “nós estamos quebrados, temos muita empresa querendo ir embora”. E ontem eu recebi uma carta: eles saíram de 2 milhões e 200 mil carros, e estão prometendo produzir 4 milhões de carros em 2009. Qual foi o milagre? O milagre foi uma coisa que a gente vinha dizendo para eles há 20 anos: com 24 meses de prestação, só pode comprar um carro o setor da classe média. Se vocês quiserem que o pobre compre um carro, aumentem o número de prestações, porque o pobre não olha o custo final, ele olha se a prestação cabe no holerite dele, se cabe no bolso dele. Hoje as pessoas estão esperando três meses para comprar um carro; caminhão, nove meses, se for caminhão pesado; máquinas agrícolas, não tem mais no mercado. Não tem pedreiro, não tem engenheiro, não tem azulejista. Por que não tem? Porque durante 26 anos este País estava preparado para não crescer. Havia uma lógica entre os economistas do governo de que o Brasil não poderia crescer mais do que 3% ao ano. Nós queremos provar que o Brasil pode crescer 3%, 4%, 5%, 6% e quanto a economia suportar. Qual é o cuidado que nós temos que ter? O consumo não pode crescer acima da capacidade produtiva do País. Até pode, porque a gente pode importar um pouco. Mas é preciso que a gente tenha cuidado porque, se cresce muito o consumo e a indústria não investe em novas fábricas, em nova produção, a gente tem de volta uma doença desgraçada – que nós não gostamos dela – que é a inflação, que muitas vezes favorece o rico e quem paga o preço é o pobre que vive de salário neste País.Pois bem, hoje eu posso dizer para vocês, sem medo de errar: vivemos o melhor momento do País, dos últimos 30 anos, e com possibilidade de melhorar ainda mais. Só para saneamento básico são 40 bilhões de reais; para habitação são 106 bilhões de reais. Mais ainda, só da Funasa são 4 bilhões de reais para atender cidades de até 50 mil habitantes, de preferência aquelas que têm mais mortalidade infantil, aquelas que têm doença de Chagas. Criamos o programa de Financiamento de Habitação Social: foram 2 bilhões no ano passado e 2 bilhões neste ano. A economia brasileira vai continuar crescendo, o salário vai continuar crescendo, o consumo vai continuar crescendo, as indústrias vão continuar investindo, e eu tenho a convicção de que daqui a 10 ou 15 anos a gente vai poder ter, neste País, uma geração que viveu 10 ou 15 anos com a economia brasileira crescendo, vendo a nossa juventude arrumar emprego.Cada vez, Marilena Chauí, que eu vejo a televisão mostrar um assalto ou um crime, ela mostra um jovem de 17, 15, 30 anos. Eu não estou aqui defendendo que esse jovem cometa crime, não. Ele tem que ser punido. Agora, é importante saber que esse jovem é resultado do descaso de 30 anos de administração pública deste País, em que os pobres foram sendo segregados, as famílias foram vivendo um processo de degradação pela miséria, sem perspectiva, sem escola. Essas crianças não tinham oportunidade. É por isso que nós vamos fazer 214 escolas técnicas; é por isso que nós vamos fazer 10 novas universidades federais; é por isso que nós vamos fazer 48 extensões universitárias; é por isso que nós aumentamos de 8 para 9 anos o tempo de permanência da criança nas escolas; é por isso que, na semana que vem, vamos anunciar internet banda larga em 55 mil escolas das cidades brasileiras, para que o nosso jovem possa viajar para onde ele quiser, pela internet, possa estudar e possa competir com qualquer outro, mesmo que seja de classe social mais privilegiada.Este País está sendo construído porque um dia vocês acreditaram. O grande desafio que nós temos é elevar a auto-estima deste País, é acreditar que a gente pode, é acreditar que nós temos que ser persistentes. Até porque, se eu não fosse persistente eu teria desistido na primeira derrota, em 82, quando eu perdi para o governo de São Paulo. Eu teria desistido em 89, quando eu perdi para o Collor. Eu teria desistido em 94, quando eu perdi para o Fernando Henrique Cardoso. Eu teria desistido em 98, quando eu perdi outra vez para o Fernando Henrique Cardoso. Mas eu acreditava tanto que eu podia chegar lá e, chegando lá, que a gente podia mudar a cara deste País, que nós chegamos lá, por persistência, perseverança, que é uma coisa que o ser humano não pode perder nunca. Não há espaço na vida humana, a vida humana é muito curta na Terra, não há espaço para a gente se levantar de manhã e dizer: “Ah, está uma desgraça, as coisas não dão certo, estou desanimado.” Não existe espaço para isso. O dia que você acordar acabrunhado ou acabrunhada, e achar que está tudo errado, vá à luta, levante a cabeça, acredite em você, que a gente muda a nossa vida e muda este País.É por isso, meu companheiro Edinho, que com muito orgulho estou aqui, porque em 2006 eu vim aqui num comício, e no comício eu disse que ia tirar essa ferrovia. Essa ferrovia, todo mundo sabe, a parte mais rica da sociedade morava do trilho para o centro, e a parte mais pobre era do trilho para a periferia. Então, nós vamos acabar com essa divisão social. Esse trilho tem que ser símbolo do desenvolvimento de Araraquara e não símbolo da divisão de classes, aqui na cidade de Araraquara. Vamos tirar. Eu prometi. No ano passado veio o meu Ministro do Planejamento, no dia da publicação do edital. Hoje eu vim com o meu Ministro dos Transportes para dizer: essas obras vão começar agora e em 2010, se Deus quiser, eu estarei aqui para inaugurar o novo terminal. E onde hoje tem trilho, vamos plantar flores para a gente alegrar ainda mais o povo da Morada do Sol, o povo desta cidade extraordinária.Por isso, meus queridos companheiros e companheiras, eu estou feliz. Primeiro, pela escola homenageando a Gilda. Eu tive pouco contato com a Gilda, mas tenho uma profunda admiração e sou muito amigo do seu companheiro, o nosso, não menor, Antônio Cândido. A segunda coisa foi vir aqui, Edinho, junto com você... O Edinho é uma dessas coisas boas que acontecem na vida de uma cidade. O Edinho é um companheiro, conheço poucos como ele, desprovido de interesses, eu nunca vi o Edinho rancoroso, nunca vi o Edinho nervoso. E somente quem se levanta de bem com a vida é que pode ser assim. A gente se levantar todo dia acreditando que vai ser melhor, acreditando que vai conseguir...Então, eu queria me despedir dizendo para vocês: nós, brasileiros e brasileiras, pobres e ricos, pretos e brancos, a gente pode construir esta nação, uma grande nação. O Brasil jogou fora muitas oportunidades, eu não vou jogar fora as oportunidades. Quando nós estamos investindo em educação é porque eu acho que não tem outra saída. Ou a gente forma a nossa juventude, qualifica a nossa juventude e começa a exportar não só suco de laranja, não só minério de ferro, não só soja, mas exportar inteligência, conhecimento, porque é isso que vai colocar valor agregado e dar dimensão de nação desenvolvida ao Brasil.Por isso, muito obrigado, de coração, Edinho. Muito obrigado pelo prazer de estar aqui hoje, nesta querida cidade de Araraquara, voltando aqui, e prometendo voltar para inaugurar o contorno ferroviário.Um beijo e um abraço.
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