“Se pudesse decidir se devemos ter um governo sem jornais ou jornais sem governo, eu não vacilaria um instante em preferir o último.” Thomas Jefferson
“A imprensa não tem que ser justa; tem que ser livre.” Márcio Thomaz Bastos, ex- Ministro da Justiça
“A imprensa regula o Estado, e a internet se contrapõe à própria versão da imprensa sobre as coisas. A internet é o espaço da liberdade absoluta, para além da liberdade de imprensa.” Ayres Britto, Ministro do Supremo Tribunal Federal
São Paulo, 29 de março, 2010
Dra. Juliana Resende Lima
Delegada da Polícia Federal – São Paulo
Prezada Dra. Juliana Lima,
Lamentavelmente, depois que falamos ao telefone surgiram compromissos profissionais que me impedem de atender ao seu convite.
(Anexo o e-ticket da viagem.)
Gostaria, porém, de ponderar, com todo o respeito, que não vejo por que ser entrevistado numa ação “disciplinar” realizada pela Corregedoria da Polícia Federal.
Desde que recebi o documento concernente ao convite, me fiz essa pergunta: o que eu tenho com isso ?
Daí a razão do meu telefonema, além de informar que não seria possível atender ao convite na data antes marcada.
Mas, percebi que a senhora – com um tom de voz deselegante e até arrogante, devo sublinhar – quer saber quem me passava informações sobre a Operação Satiagraha.
Sou jornalista há 49 anos e me habituei a entender o que as pessoas me dizem.
Diante disso, telefonei ao gabinete do Ministro da Justiça – a quem, pelo menos no plano formal, a Polícia Federal se subordina – e formulei a seguinte pergunta, dirigida ao próprio Ministro Luiz Paulo Barreto: “O Governo do Presidente Lula agora deu para querer saber a fonte de jornalista ?”
Para responder a essa pergunta, a Assessora Especial do Ministro da Justiça, Christina Abelha, me honrou com uma visita à redação do Conversa Afiada, em São Paulo, nesta sexta-feira 26 de março de 2010.
A Sra. Abelha me informou que o Ministro da Justiça, em absoluto, não queria saber quais eram as minhas fontes de informação.
Pedi, então, que dissesse isso por escrito, num e-mail que pudesse submeter à sua douta apreciação, Dra Resende Lima.
Aí vai, na íntegra, o e-mail que recebi neste sábado:
Caro Paulo Henrique,
Atendendo seu pedido de esclarecimento sobre a intimação para que compareça, na condição de testemunha, à Corregedoria da Superintendência Regional da PF em São Paulo, para prestar informações no interesse de Sindicância instaurada pela Corregedoria-Geral, a fim de apurar possíveis vazamentos nas investigações que culminaram na Operação Satiagraha, informo que:
Sua preocupação, a mim relatada, de que o interesse único dessa intimação seria conseguir os nomes de suas fontes, envolvidas no trabalho jornalístico que realizou, não procedem. O direito do jornalista de preservar os nomes de suas fontes é lícito e, em momento algum, você será obrigado a revelá-las.
Por parte do Ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, esclareço que não há e não haverá, em sua gestão, qualquer tipo de ação abusiva de sua equipe, no sentido de forçar cidadãos, no pleno exercício profissional, a revelar o que tiverem o direito de resguardar.
Esperando ter esclarecido suas dúvidas, despeço-me,
Christina Abelha
Assessora Especial do Ministro da Justiça
Dra. Resende Lima, recentemente tive a honra de entrevistar no programa “Domingo Espetacular” o Vice-Presidente da República, Dr José Alencar.
Foi uma entrevista emocionante, que teve, numa leitura preliminar do IBOPE, 16 pontos contra 15 da Globo (depois, nas leituras não-preliminares do IBOPE, a Globo costuma reagir).
A certa altura, perguntei ao Dr. José Alencar, que se submeteu a 15 cirurgias para combater o câncer, se tinha medo de morrer.
Ele respondeu: “Não tenho medo da morte. Tenho medo da desonra.”
Dra. Resende Lima, para um jornalista, revelar a fonte é pior que a morte: é uma desonra.
Aproveito o seu zelo profissional para perguntar sobre o andamento de uma denúncia que fiz à Policia Federal sobre perseguições que sofri de pessoas ligadas ao Governador José Serra e ao banqueiro condenado Daniel Dantas.
Transcrevo, a seguir, a notícia sobre a denúncia que publiquei em meu site na internet, o Conversa Afiada:
Um portador entregou hoje, segunda-feira, dia 26 de janeiro (de 2009), a seguinte representação na sede da Polícia Federal, em São Paulo.
Quem recebeu foi D. Leonice, secretária do Superintendente da PF em São Paulo, Dr Leandro Daiello Coimbra.
A representação foi protocolada às 10H55M, sob o número 08500.000346/2009-25
Exmo. Senhor
Superintendente da Polícia Federal no Estado de São Paulo
Delegado de Polícia Federal Leandro Daiello Coimbra
N E S T A
Senhor Superintendente,
Paulo Henrique Amorim, jornalista, … vem à presença de V.Exa. para expor e requerer o que segue:
O requerente e membros de sua família têm sofrido ações de espionagem, perseguição e grampo telefônico por parte de indivíduos que atuam a mando do banqueiro Daniel Valente Dantas e do governador José Serra. A ação desses indivíduos visa intimidar a atuação profissional do requerente, cuja cobertura jornalística noticia atos prejudiciais à sociedade praticados por Dantas e Serra.
Diante do exposto, e em atendimento à solicitação do Exmo. Ministro da Justiça, dr. Tarso Genro (conforme correspondência anexa) o requerente solicita de V.Exa. sejam adotadas as providências necessárias para apuração dos fatos e punição dos envolvidos.
São Paulo, 26 de janeiro de 2009
Paulo Henrique Amorim
Se for o caso, posso encarecer ao Exmo. Ministro da Justiça para que, como fez o antecessor, sugira à Polícia Federal para concluir as investigações.
Atenciosamente,
Paulo Henrique Amorim
Em tempo: gostaria muito de dar o furo sobre o áudio do grampo do diálogo do Ministro Gilmar Mendes com o Senador Demóstenes Torres. Sei que a grave denúncia da respeitada revista VEJA está sob exame desta Polícia Federal. Como jornalista, eu teria um imenso prazer em divulgar esse áudio, se a Sra, Dra Resende Lima, me ajudasse a descobrí-lo. Garanto o sigilo da fonte.
Paulo Henrique Amorim
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